O Arquivo Público do Estado do Pará lançou um livro chamado História, Loucura e Memória, que trata do acervo do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira. O livro está belíssimo e é uma parceria da SECULT com a SESPA, contém uma exposição de fotos do hospital e tem uma coletânea de textos. Traz também o fundo documental do Hospital Juliano Moreira que é um belo instrumento de pesquisa. Comprem, pois valerá a pena conhecer um pouco de nossa História e das Histórias dos nossos "loucos".
O Hospital Psiquiátrico “Juliano Moreira” tem origem no antigo hospício de alienados, fundado em 19 de julho de 1892, localizado no Bairro do Marco da Légua. Em 1937, passou a denominar-se “Juliano Moreira” em homenagem ao psiquiatra baiano que contribuiu significativamente com a psiquiatria no Brasil.
Sua trajetória de quase 100 anos (1892-1989) confunde-se com a trajetória da própria medicina psiquiátrica no Estado do Pará, seus avanço e recuos. Como instituição asilar, está incluído na série de reformas da cidade de Belém, no início do período republicano, em que manicômios, hospitais e presídios foram construídos distantes da área central, retirando desta forma, elementos não condizentes com o espaço urbano, pautado na higienização, na organização e no embelezamento. Era o local onde a medicina tentava se apropriar da loucura, abandonando os velhos métodos como, por exemplo, o uso de camisas de força e de troncos. Simultaneamente, foram instituídas novas formas de tratamento como a hidroterapia, iniciada na Europa, considerada o centro da civilização.
A mudança para Hospital Psiquiátrico “Juliano Moreira”, em 1937, trouxe uma nova forma de olhar a loucura. Agora, entendida como algo que podia ser tratável por meio de novos medicamentos e novos tratamentos, como o Cardizzol, a malarioterapia, entre outros.
As transformações na forma de tratamento e na visão da loucura, contudo, não superam o caráter segregacionista de perda de liberdade e da cidadania por parte dos doentes. Mesmo a introdução de atividades de praxiterapia nos anos 60 - como pintura, a escultura em argila, em gesso e em madeira, as festas dançantes e os torneios esportivos – não evitou o lento processo de desospitalização, ocorrido entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80.
O fogo que consumiu parte da estrutura do prédio, em 1982, mostrava o processo agonizante pelo qual passava o velho hospital, desativado em 1984. Alguns de seus remanescentes encontram-se hoje, no CIASPA (Centro Integrado de Assistência Psiquiátrica do Pará), em Ananindeua. No lugar do antigo hospital psiquiátrico, encontra – se atualmente o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará (UEPA), na avenida Almirante Barroso.
Extraído do livro: História, Loucura e Memória.
Autores: Alice Bela e Éderson Pinho